POLÍTICA: Eleições, algoritmo e a democracia no piloto automático

Por Andreyver Lima

O anúncio da criação do Partido da América por Elon Musk, nos Estados Unidos, pode parecer algo distante da realidade brasileira. Mas não se engane: o modelo que Musk propõe já influencia profundamente o nosso processo eleitoral e tende a impactá-lo ainda mais em 2026.

A combinação entre inteligência artificial e algoritmos que dominam o debate público está transformando a política em um jogo de atenção, não de ideias. Vence quem ocupa mais espaço nas redes mesmo que não diga nada de relevante.

No Brasil, onde teremos eleições presidenciais e legislativas no próximo ano, os riscos são evidentes. Ferramentas de IA generativa permitirão a criação de conteúdos falsos com aparência perfeita. Vídeos forjados, áudios adulterados e ataques personalizados por robôs serão parte do novo arsenal eleitoral. A manipulação em escala industrial passará a ser rotina não exceção.

Mas o problema vai além da mentira. Está na forma como a política está sendo redesenhada para caber no tempo de um vídeo curto, na lógica da emoção, da provocação e da viralização. A IA acelera esse processo, entregando ao marqueteiro digital recursos que antes exigiam equipes inteiras: segmentação do eleitorado, ajuste de linguagem, testes de narrativa, automação de respostas.

E tudo isso com mais eficiência do que qualquer partido político tradicional.

O efeito é o esvaziamento das instituições democráticas. O voto permanece, mas sua formação passa por filtros controlados por empresas privadas não por princípios públicos. A Justiça Eleitoral corre o risco de parecer analógica diante de uma campanha operada por sistemas que aprendem sozinhos e agem em tempo real.

O Brasil, que já enfrentou fake news em 2018 e desinformação em 2022, chega a 2026 com uma tecnologia ainda mais avançada e uma legislação ainda mais atrasada. O Judiciário será chamado a mediar um campo de batalha onde os limites entre o verdadeiro e o falso, o humano e o sintético, estão cada vez mais borrados.

Mais grave do que isso é a substituição da política pelo espetáculo. Com as ferramentas certas, qualquer pessoa pode parecer presidenciável. Pouco importa o preparo, a proposta ou o histórico. O que importa é se o rosto combina com o meme, se a fala rende corte, se o post engaja mais que o adversário.

É nesse cenário que figuras como Musk se projetam. Não interessam partidos interessam dados. Não importam programas importa atenção. O Partido da América talvez nem eleja ninguém nos EUA, mas sua lógica já opera aqui: a lógica da política-algoritmo, onde quem comanda a rede dita as regras do jogo.

A democracia brasileira precisa estar alerta. O jogo está sendo redesenhado por quem não foi eleito, não presta contas e não segue as mesmas regras. E quando a política entra no piloto automático, o risco não é só perder o rumo é entregar o volante.

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