A sessão desta terça-feira (6) na Câmara de Itabuna escancarou, o descompasso entre o discurso e a prática. Em meio a um plenário pressionado pela presença de professores da rede municipal, vereadores se engalfinharam em debates ideológicos, empurraram responsabilidades e revelaram dificuldades da Casa.
Logo no início da sessão, o vereador Dr. Clodovil (PL) utilizou seu tempo de fala em direção ao governador Jerônimo Rodrigues (PT), resgatando uma declaração feita na semana anterior, em que o chefe do Executivo estadual afirmou que Jair Bolsonaro e seus eleitores “deveriam ser colocados numa vala”. Para Clodovil, o governador ultrapassou os limites do aceitável.
A fala, no entanto, foi rebatida pelo vereador Eldon Orea (Avante), que lembrou que Jerônimo já se retratou publicamente e aproveitou para reavivar memórias de frases igualmente agressivas de Bolsonaro, como a infame “metralhar a petralhada” e a defesa da ditadura militar com a máxima de que “ela errou por não matar mais”.
O confronto entre os dois parlamentares deixou claro que a Câmara de Itabuna operou sob os efeitos da polarização nacional, mesmo quando há pautas urgentes em jogo.
Enquanto isso, os professores da rede municipal — que lotam as galerias da Câmara desde o mês passado — seguem sem resposta. O impasse se agravou com a ausência do presidente da Casa, Manoel Porfírio (PT), que faltou às duas últimas sessões. Danilo da Nova Itabuna (UP) cobrou providências e destacou que os profissionais da educação têm demonstrado paciência, mas já começam a perder a esperança.
A tensão aumentou quando o vereador Babá Cearense (PP) sugeriu que os professores “protestassem na porta da prefeitura”, já que, segundo ele, a Câmara não tem poder para revogar o decreto que determinou as demissões. A fala caiu como gasolina em palheiro. Professores reagiram de imediato, e a presidente do SIMPI, Carminha Oliveira, classificou o posicionamento como “vergonhoso”.
No campo das denúncias (ou quase), o vereador Erasmo Ávila (PSD) decidiu tirar por menos uma fala feita em sessão anterior, na qual mencionou que a empresa contratada pela prefeitura para recolher animais soltos estaria recebendo sem realizar o serviço. Nesta terça, Erasmo recuou, disse que não teve intenção de fazer denúncia, e que seu papel era “apenas fiscalizador”. Prometeu uma reunião com representantes do governo para entender o contrato. Mas o estrago político da fala anterior já está feito — e a dúvida segue no ar: há ou não há irregularidade?
O que se viu nesta terça-feira foi uma Câmara distante do clamor popular e centrada em disputas que pouco ajudam a resolver os problemas da cidade. Com a ausência do presidente, sem articulação entre os blocos e diante de uma crise envolvendo profissionais da educação, os vereadores demonstraram mais preocupação com agendas paralelas do que com o que realmente importa.