O debate sobre a regulamentação dos paredões de som automotivo não é novidade, mas sempre ressurge com novas camadas de discussão. A proposta do vereador Delegado Clodovil (PL), que defende medidas mais duras contra o uso desordenado desses equipamentos, reacendeu a polêmica. De um lado, a população que clama por sossego e ordem; do outro, aqueles que veem nos paredões não apenas uma forma de diversão, mas também um meio de sustento.
Clodovil argumenta que a situação se tornou insustentável, especialmente em regiões periféricas e condomínios, onde moradores são forçados a conviver com ruídos em níveis insuportáveis. Sua proposta inclui multas mais pesadas e apreensão dos equipamentos usados irregularmente. “Não é mais possível que as pessoas sejam obrigadas a conviver com som alto a qualquer hora do dia”, defende o vereador.
A crítica mais incisiva veio do vereador Eldon Orea (AVANTE), que expôs uma suposta hipocrisia política ao lembrar que muitos parlamentares usaram paredões em suas campanhas eleitorais. Para ele, o problema existe, mas a solução é regulamentar, não proibir. “A juventude também quer se divertir. Na minha época era Harmonia do Samba, na época do meu pai era Roberto Carlos, e hoje é paredão”, argumentou.
Já o presidente da Câmara, Manoel Porfírio (PT), adotou um tom conciliador, ressaltando que a criminalização dos donos de paredão não é solução e que muitos desses profissionais dependem da atividade para sobreviver. Ele destacou ainda que a prática movimenta a economia, especialmente em bairros periféricos. “Se é para proibir agora, que se proíba também nas eleições”, disparou.
Por sua vez, o vereador Erasmo Ávila (PSD) em entrevista ao OziTVdefende um meio-termo: “Os paredões hoje tocam em qualquer lugar, sem autorização. Isso gera conflitos. Precisamos de regras claras para evitar abusos e garantir a convivência pacífica”.
O debate saiu das tribunas e ganhou ainda mais repercussão com a declaração da cantora Mc Mari no podcast PODPAH, exaltando a cultura do paredão em Itabuna: “Lá é o fluxo! Vários paredões, cada um tocando uma música diferente”. A frase, dita de forma descontraída, traduz bem o espírito da discussão: o paredão é, de fato, uma expressão cultural popular, mas também um ponto de conflito social.
O Secretário de Segurança e Ordem Pública de Itabuna, Dr. Humberto Mattos, fez questão de esclarecer que os paredões nunca foram proibidos na cidade, mas que há normas a serem seguidas. Segundo ele, o caminho ideal é o diálogo entre as partes envolvidas: “A melhor solução é buscar o entendimento entre o direito ao livre comércio e o direito da população ao sossego e à paz”.
O desafio da Câmara será encontrar um equilíbrio que respeite a cultura, mas sem comprometer a qualidade de vida da população. Sem hipocrisia, sem radicalismos, mas com regras claras e justas. O futuro dos paredões dependerá menos do volume do som e mais do tom do debate.